quinta-feira, 29 de abril de 2010

Os Casimiros



A história da família que morou na Casa de Casimiro de Abreu, hoje museu em homenagem ao poeta


















Em Barra de São João, distrito do município de Casimiro de Abreu, em meio à população de 27 mil habitantes, há dois moradores que carregam o nome de Casimiro, em homenagem ao poeta Casimiro de Abreu, ícone do romantismo no Brasil. Apelidados de “Os Casimiros dos Santos”, pai e filho, são conhecidos como contadores de histórias da cidade, daqueles que salpicam pitadas de imaginação a fatos reais. Nenhum dos dois, no entanto, se arrisca na poesia. Na família, o único poeta se chama Jovino, pai e avô dos Casimiros.
Casimiro, pai, nasceu na casa do poeta - hoje museu em homenagem a seu morador ilustre - construção do período colonial, situada na Praça Primavera à margem do Rio São João, cercado por flamboyants, barquinhos de madeira e humildes pescadores com suas tarrafas. O imóvel, dividido em um salão e quatro salas laterais, servia de residência e local de trabalho para o pai do poeta, comerciante de madeiras.
“Meus pais, com cinco filhos, não tinham onde morar e decidiram se instalar na casa de Casimiro de Abreu, que estava abandonada. Nasci num dos quartos desta casa e me orgulho disso”, conta Casimiro, de 59 anos, batizado com o nome por sugestão da esposa de um padrinho.
“Fico mais feliz em ver a casa novinha, toda reformada. A garotada o adora. De vez em quando sento ao lado do meu xará e fico pensando na vida. Ele me dá bons conselhos”, brinca Casimiro, referindo-se à reforma realizada pela Secretaria de Estado de Cultura no museu e às estátuas de Casimiro de Abreu, que ficam no jardim.




À espera do poeta


Casimiro, pai, teve um casal de filhos: Margareth e Casimiro. Ao dar o nome, o pai tinha esperança que o filho se tornasse poeta, mas à pena, ele preferiu ser técnico de enfermagem e locutor de rodeios.


“Cresci correndo por esses bairros de Barra de São João, mas não saí poeta. Acabei batizando o meu filho de Casimiro para ver se vingava um poeta, mas nada. O único que gostava de dizer poesia na família era meu pai, Jovelino”, explica e se ajeita para recitar o poema do falecido pai:
“Barra de São João / Tu não sabes o que perdeu / Num rincão abandonado de Casimiro de Abreu / Tu és mãe e tens na alma / Tem a dor no coração / De ser mãe do poeta / Mas eu tenho a honra/ de viver sem galanteio / e de ser mãe de Casimiro de Abreu”.




Antes que o pai termine, Casimiro, filho, 35 anos, diz com a voz forte e vibrante:
“Sei o trechinho de um poema do Casimiro: Minha terra tem palmeiras / Onde canta o Sabiá /As aves, que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá”, recitando a primeira estrofe de ‘Canção do Exílio’ de Gonçalves Dias, poeta maranhense, da primeira geração do romantismo, que tratou da temática nacionalista em suas obras.


 O nome de batismo rende comentários na cidade, tanto para o pai, quanto para Casimiro José, o filho:


“Quando falo que meu nome é Casimiro, tem sempre alguém que me chama de Poeta. Mas tem aqueles que gostam de brincar: ‘É por isso que é ruim assim, se fosse bom se chamava Rio das Ostras’, conta.
Já Casimiro, pai, aproveitou a popularidade do nome para se candidatar a vereador na cidade, com aproximadamente 17 mil eleitores.
“Fui candidato a vereador como Casimiro Nego Velho. É que eu tenho mania de chamar os outros de ‘nego velho’, aí pegou. Não gastei dinheiro com propaganda política, meu nome está nos títulos de eleitores e nas placas dos carros”, brinca o bem-humorado Casimiro Nego Velho, que não foi eleito, mas pretende se candidatar novamente.



Os ‘Casimiros’ não leram os livros do poeta, mas reconhecem a sua importância para identidade cultural da região.


“Não somos de ler muito. Mas sempre fico feliz quando há ‘Olimpíada de Poesia’ na escola do meu filho. A cidade aqui é ótima. Algum outro lugar tem poesia, vulcão extinto, canhão que nunca atirou, festival de crustáceos e desfile de barcos na Festa de São Pedro? Não. Só em Barra de São João. Quem sabe um dia não surge outro poeta?”, diz Casimiro José.




Colaboração de Ramon Mello

1 Comentário:

Carolina Sá disse...

Tô super relapsa né?
Ainda bem que você existe Rubinho, salvando nosso Cotonete!

Prometo arrumar tempo!

Post maravilhoso...
As histórias das bandas daí são lindas, têm mesmo que ser lembradas.

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