domingo, 28 de fevereiro de 2010

Intervenções coletivas, organizadas através da web, invadem o espaço público das grandes cidades

Flash mob-se




Brecha Coletivo: Projeto desacelere!



.Ao atravessar uma movimentada avenida no centro da cidade, ou entrar em um vagão de metrô, surge, do nada, um grupo de pessoas desconhecidas, que realizam uma ação inusitada e se dispersam rapidamente. Trata-se de um flash mob: mobilização instantânea de pessoas para realizar, em local público, uma performance. Tudo previamente combinado.



A idéia, que começou em Nova York em 2002, virou febre no mundo inteiro. O primeiro flash mob foi organizado via e-mail, pelo jornalista Bill Wasik, em Manhattan. Um dos mais famosos flash mobs é o Frozen Grand Central, do grupo ImprovEverywhere, realizado em Nova York na maior estação de trens do mundo. Os participantes, reunidos através da internet, pararam no local na posição em que estavam no momento estabelecido, e assim permaneceram por um minuto.



A divulgação das imagens através de ferramentas virtuais como You Tube fizeram a popularidade dos flash mobs. A tecnologia é utilizada para reunir os participantes, entre as redes mais populares como Twitter e o Facebook. O You Tube cumpre a função de suporte, divulgando a ação já realizada. Acredita-se que a facilidade do contato virtual instigue o interesse de as pessoas se conhecerem fisicamente.



Desafio à velocidade



No Rio de Janeiro, jovens artistas integrantes do Brecha Coletivo desenvolvem um dos trabalhos mais interessantes. O grupo surgiu a partir da idéia do ator Patrick Sampaio, que resolveu reunir criadores de diferentes disciplinas - atores, bailarinos, escritores, artistas plásticos, filósofos- para realizar estudos que se desdobram em ações coletivas.



"O ponto de partida foi o interesse pela contracultura, começamos a estudar o conceito T.A.Z. - Zona Autônomas Temporárias, escrito por Hakim Bey. O flash mob está dentro desse conceito. Como o mundo inteiro está cartografado, tentamos preencher um determinado espaço para criar uma zona autônoma no tempo. A internet é uma aliada do flash mob, o virtual elimina essas barreiras.", diz Patrick, que prepara para o início do mês de março a segunda ação do coletivo, que tem como uma de suas características o sigilo.



Desacelere!, a 1ª ação do Projeto Flashmobing desenvolvida pelo Brecha Coletivo envolveu cerca de 80 pessoas, e foi realizada na faixa de pedestres que liga as esquinas das avenidas Nilo Peçanha e Rio Branco, no centro do Rio, entre 12h30 e 12h35 em novembro de 2009. A ação criou um tempo "suspenso" através da desaceleração do caminhar dos participantes durante a travessia da faixa, que durou cerca de 60 segundos.



Para a atriz Lisa Fávero, as mobilizações podem invadir o cotidiano e despertar a sensibilidade das pessoas, uma forma de resgate.



“O flash mob é usado para diversos objetivos, mas nossa proposição é artística. Não há um tema fixo, vamos fazer um mob a cada dois ou três meses. Queremos criar um momento de estranheza, recuperar o olhar das pessoas que estão viciadas em atitudes mecânicas. Vendemos essa paixão. É uma tentativa de resgatar o humano, retirá-lo do piloto automático.”, explica Lisa, integrante do Brecha Coletivo com a cantora Thaís Gulin e a apresentadora Isabel Wilker, entre outros artistas.



Intervenções urbanas



A atriz e bailarina Tatiana France dedica-se, muito antes da moda dos flash mobs, ao estudo de ações performáticas através do grupo de intervenções urbanas Urbitantes, fundado na UNIRIO. Homem-Produto, um dos trabalhos mais freqüentes do grupo, inspirou-se na figura do vendedor ambulante que circula pela cidade fazendo do seu corpo o suporte para os seus produtos, uma verdadeira barraca ambulante.



"Como artista, sempre tive vontade de interagir com o público na rua, a surpresa do contato espontâneo. A reação é imediata, sem a pré-construção de um comportamento. A arquitetura do espaço urbano nos interessa, para falar dos próprios problemas da cidade. O sinal de trânsito é um espaço de atuação performática do cidadão comum: os vendedores, os artistas de rua – são pessoas que reinventam o cotidiano de forma criativa.", afirma France, que prepara uma nova intervenção para atuar em diferentes pontos da cidade:



“Vamos realizar o Manifesto Itinerante com o Homem-Produto. É uma versão mais intensificada, o grupo vai levar a performance para vários bairros como Copacabana, Arpoador, Madureira, Centro. A proposta é intervir no espaço urbano, da Zona Sul à Zona Norte", explica a atriz, que, em paralelo, vai morar numa galeria de arte com os integrantes do grupo. A cada dia, um videomaker diferente irá filmar a convivência do grupo e criar um produto em cima da ação, serão sete olhares em cima do manifesto.



Outras mobilizações



As intervenções urbanas têm despertado o interesse de empresas, que apostam na idéia para promover a marca ou o produto. Se em alguns países os flash mobs ganham aspectos artísticos e políticos, em outros estão inseridos em relações institucionais.



No dia 20 de janeiro, por exemplo, em comemoração ao Dia de São Sebastião, Padroeiro do Rio de Janeiro, a Tap realizou um flash mob no Aeroporto Antonio Carlos Jobim (Galeão). Dançarinos atuando como funcionários da companhia aérea portuguesa e clientes que estavam no saguão do aeroporto começaram a dançar várias músicas que falam sobre o Rio de Janeiro. O repertório foi bastante eclético, do Samba do Avião com Tim Maia & Os Cariocas à Cidade Maravilhosa, cantada por MC.



Em setembro do ano passado, a banda Black Eyed Peas fez um show ao vivo na Avenida Michigan, Chicago, para comemorar o início da 24ª temporada do programa da Oprah Winfrey. Porém o que parecia apenas mais um show foi transformado na maior execução de flash mob. Os organizadores reuniram cerca de 800 pessoas para os ensaios que contava ainda com um produtor, um coreógrafo e 20 dançarinos profissionais. E o que era para ser um simples flash mob contagiou todo o público, com uma multidão de mais de 20 mil pessoas acompanhando a coreografia.



As interveções urbanas, ou flash mobs, estão cada vez mais freqüentes nas cidades. Ao esbarrar com alguma dessas intervenções coletivas, permita-se a surpresa.


Colaboração de Ramon Mello

2 Comentários:

Carolina Sá disse...

Gente, adoro essa coisa do Flash Mob... antes de vc postar isso aqui eu tava tendo ideias a respeito de um em rio das ostras! o que acham? vamos mobilizar?

Blog Chorão disse...

Já é!!! Conte comigo... A região precisa levar um "flash mob" na cabeça pra ver se vira gente.
Vamos balançar essas estruturas enferrujadas.

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